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Foto do escritorRonaldo Santos

American dream

Atualizado: 6 de out. de 2024

A sutil e subjetiva forma de colonização, o padrão cultural a ser seguido.



A visão que eu tenho de mundo não é minha, me fora emprestada por meio daquilo que vim consumindo ao longo da minha vida através de filmes, músicas e desenhos que apontavam o que eu deveria ver, ser, sentir e entender, tudo isso por meio de uma colonização conhecida por Colonização cultural.


Entende-se por colonização o processo pelo qual os seres humanos ocuparam novos territórios pelo mundo. Uma colonização pode ter como objetivo a habitação ou a exploração de recursos.


O período da colonização na Idade Moderna se inicia no final do século XIV, com o crescimento econômico de países europeus e asiáticos. As colonizações a partir desse período se caracterizam, em geral, pelo uso da violência e dominação dos povos nativos.


A colonização europeia, que abrangeu a maior parte do mundo, tinha como principal motivação a busca por mercadorias para comercialização e metais preciosos.


Nesse período predominava o mercantilismo, um modelo econômico baseado em trocas comerciais e no acúmulo de ouro e prata.


As principais nações colonizadoras da Europa foram: Portugal, Espanha, Inglaterra, França e Holanda. O período da colonização por esses países começa no início do século XV e se estende até o século XIX.


Colonialismo cultural é uma forma de se alterar sutilmente a cultura de um grupo de indivíduos (território, país) por meio da manipulação dos meios de comunicação (cinema, televisão, etc.), fazendo com que muitas vezes estes sejam desapossados de parte dos seus bens culturais. É uma estratégia utilizada pelos imperialismos para manterem seu domínio. A dominação cultural é um dos três pilares que mantém os impérios. Os outros pilares são: o domínio econômico e o domínio militar.


Nas vias culturais é exercida uma estratégia sobre os dominados que utiliza da propaganda, da censura ou do impedimento da produção cultural, da desinformação, com negação de verdades ou com a ocultação do passado histórico. Isto leva aos indivíduos a perceberem a cultura imposta como superior e a sua própria cultura como inferior.


A categoria bárbaro no mundo grego, alargadamente usada em épocas posteriores, está entendida como pessoa de civilização ou cultura inferior, mais tarde, a partir do século VI até o final do século XV, barbarus veio equivaler a paganus do ponto de vista religioso . Para o sociólogo Vilfredo Pareto (1848-1923) o conceito da barbárie continua a ideia de Aristóteles da "servidão natural", sendo justo e de proveito que uns povos mandem e que os bárbaros obedeçam .


O debate filosófico e legislativo do período colonial nascido no século XVI, qualifica com a palavra bárbaro aquele povo que não é capaz de se governar por si mesmo, e pelo tanto de justificável colonização. Neste século XVI foi célebre a batalha escolástica entre Bartolomeu de las Casas e Juan Ginés de Sepúlveda, tendo por pano de fundo a discussão sobre a barbaridade das pessoas americanas. Casas apresentou argumentos para qualificar as pessoas da América como seres com alma, mas dentro de um estado de barbárie que precisava da cristianização; "bárbaros a cristianizar" e "primitivos a civilizar". Juan Ginés de Sepúlveda para demostrar a "falta de alma" das pessoas do outro continente usa argumentos hoje qualificados como de etnocentrismo cultural: os índios não tem sentido da propriedade privada, nem noção dos mercados (na época, algumas sociedades produziam em formas coletivas e a riqueza era distribuída com reciprocidade).


Este discurso de "falta de alma" mudou posteriormente na "falta de humanidade" e no racismo que se alicerçou em saberes "científicos".


Casas discute também o conceito de guerra justa com o padre Gregorio Lita, este último apoiando-se em Tomás de Aquino, legitima submeter a povos que tem em si malignidade ou que são bárbaros. O conceito de bárbaro é desarmado por Michel de Montaigne também neste século XVI:


...acho que não há nessa nação nada de bárbaro e de selvagem, pelo que me contaram, a não ser porque cada qual chama de barbárie aquilo que não é de seu costume; como verdadeiramente parece que não temos outro ponto de vista sobre a verdade e a razão a não ser o exemplo e o modelo das opiniões e os usos do país em que estamos...


A colonização cultural nasce de valores antitéticos à Alteridade.


Na alteridade, uma pessoa respeita a outra, um povo a outro, o diálogo é frutífero. Se não há alteridade, quem é mais forte domina o outro e termina por impor suas crenças. "Dou-me um lugar a mim como se eu for outro de mim mesmo". Não é de jeito narcisista que “eu” dou o lugar ao outro. Busca o colonialismo cultural a eliminação do “outro” uma negação da alteridade, seja pela segregação, integração forçada ou aculturação. A barbárie interiorizada pelo colonizado: A barbárie é o maior sinal de colonização. O sujeito cultural colonizado funda a sua "identidade" em uma suposta barbárie que lhe faz apreender do colonizador e; desde ela é estabelecido o seu lugar no mundo: o sujeito cultural colonizado é um sujeito infantilizado (aqui o qualificativo infantilizado está usado com a ideia que tem da infância a sociedade europeia e europeizada, além de outras sociedades, como manipulável, ideologicamente inferior ou imatura).


O quanto eu sou eu, e o quanto eu sou aquilo que eles queriam que eu visse e assimilasse?


Como professor de língua inglesa, tenho o dever de me aperfeiçoar no conhecimento linguístico e cultural desse idioma. Por vezes passei a admirar as narrativas distantes da minha realidade, e com isso, passava a idealizar um modo de ser, um sonho a ser buscado: An American Dream! Mas será que eu teria essa ideia se desde cedo eu fosse exposto a outra cultura, um outro idioma tão impositivo? Será que eu teria escolhido ser professor de árabe se desde cedo eu fosse acostumado com a língua e costumes desse povo tão intrigante?


Quando criança sempre aguardava cheio de expectativa por um Natal branco, onde haveria bastante neve e também receberia a visita do bom velhinho, descendo pela chaminé da minha casa. (Obviamente, na época, eu criança, não percebia que na região do nordeste do Brasil não havia a menor possibilidade de cair flocos de neve do céu), por mais que isso fosse uma ação corriqueira nos filmes, e muito menos não fazia ideia de como o Papai Noel iria deixar meu presente próximo a lareira inexistente da minha humilde casa de telhado. Por muitas vezes eu ficava triste ou deprimido por não se encaixar naquele padrão e, por aquele modelo de vida está fora do meu alcance.


Ainda me são frequentes as perguntas: “Professor, o senhor já foi pros Estados Unidos?” “Por que o senhor não foi morar nos Estados Unidos?” Como se de fato eu quisesse escolher as escolhas que me são obrigatórias. Já pensei sim em morar nos EUA, mas conhecendo melhor outras culturas, ganhando novas almas ao estudar outros idiomas eu percebi que eu não sou uma marionete e que sim, eu posso escolher por mim mesmo aquilo que eu quero ver, ser, sentir e vivenciar. Já estive em dois países hispano falantes e me senti completo, senti que fazia parte de algo que eu decidira ser, sem sofrer influências. Não tenho nada contra os norte-americanos, muito pelo contrário! Continuo consumindo muito a cultura produzida lá, tenho amigos e penso em conhecer o país, porém não me sinto obrigado a seguir algo que não me concerne ou que não me encaixa mais.


BÔNUS: Para quem assistiu ao filme Viúva Negra, a referência será entendida. Para quem não assistiu, assista e entenda!


(Música: American Pie. Cantor: Don McLean)


FONTES:


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